PALOMA NEGRA
Resplandeces entre estilhaços de rosas na exuberante Beleza
De teus bárbaros desvarios,
Ao Poente dos Sentidos e dos Profetas,
Expoente de infinito.
Escrevo-te hoje,
Na minha persistente insónia,
Neste papel de ninguém,
Entre poesia e aguaceiros,
E em tua presença, com que ousaste pintar a vida,
Chamo-te de amiga.
Ai, “Paloma negra”, cujo resfolegar do Amor
Tanto ansiaste,
Sinto o pulsar do teu sangue em todas as minhas artérias,
O teu odor em meu corpo,
Tuas telas em meus lábios.
Escrevo-te entre um tango de jasmim,
E um estilete de fogo ardente,
Ó apoteose de Pilatos em pleno deserto,
Sempre consistente…
Quão maravilhosamente pintaste a minha alma
Entre os teus estilhaços de agonia!
Quem te poderia entender,
Frida?
Sempre tão ferida, entre exílios e euforias,
Esvoaçando qual condor,
sobre todos nós, por aí,
estremecendo alegria?!
Quem, senão tu, conseguiria colorir a genialidade da Dor
A mais sublime, com o sorriso do seu corpo rasgado,
De alto a baixo?!
Ai Ninfa feita mulher,
Escrevo-te hoje para te entregar plena de beleza
A uma constelação maior.
À essência e ao sangue de uma águia real,
Rumo aos Pórticos Sagrados
Dos poetas,
À Sr.ª D. Morte entre mariposas loucas,
Orquídeas de despedida e Tequilla
Minha irmã de infortúnio,
Pedaço de poesia e de mim.
A Frida Khalo, magnífica, para a eternidade
© Célia Moura – in “Enquanto Sangram As Rosas…” (p. 122), 2010