A TUA DOR, IRMÃO
Doem-me todas as palavras
No teu corpo de solidão
Enquanto a madressilva me sorri.
A Liberdade de um grito
Cravado em mim
Que desconheço.
Doem-me inclusivé as sílabas
Dos teus lábios de silêncio
Em redor da enseada.
Doem-me castiçais de prata
Transbordando corvos feridos,
E sementes que jamais germinarão.
Dói-me este pão de cada dia
Irmão,
A tua fome que encerro em mim,
O teu frio que me rasga por inteira.
Dói-me este sangue de traição,
Esta ânsia de jasmim,
Este beiral de pardais,
Pedaço de ti.
Dói-me a luz da cidade desperta.
Mata-me o desassossego do fado
Que me liberta e santifica
Num altar de cravos e madrugada…
e finalmente já exausta de mais um hino à tua, nossa Dor
Meu irmão,
Todas as palavras me doem,
Seja qual for o Caminho!
© Célia Moura – in “Enquanto Sangram As Rosas…” (p. 8), 2010
(Ilustração – Miquel Peiró Crespi Photography)
Célia, tomara que um dia nos conheçamos! Muito obrigada por esta poesia. Continue escrevendo! Não diria isso a uma penca de pessoas. Abraços.
A minha gratidão pela sensibilidade das suas palavras ZéCarlos.
Aceite o meu abraço.
Um belissimo poema que não pode deixar indiferente quem o lê e acompanha cada palavra e sentido. A sensibilidade poética na vivência dramática da própria vida ou o retrato cruel de quem sofre.Parabéns.