Já naquela época pressentia que muito do que me dizias iria, anos mais tarde, quando não te tivesse mais junto a mim fazer todo o sentido.
Sim. Nós na verdade sabíamos todas as coisas, as mais simples de todas.
Para quê desejar saber de outras se a linha da vida passava ali entre nossas mãos?
Creio que achávamos tudo simples demais. Éramos demasiado jovens e sonhadores, sobretudo eu.
Tal como previste quase desisti. A vida tanto me edificou como esfarrapou.
Tu cresceste sim, tal como o que eu tanto desejara para nós.
Foi preciso nos perdermos sem que a vida nos concedesse qualquer trégua para algo mais senão a distância absoluta. Foi preciso percorrer desertos em silêncio para agarrar o som sumido da tua voz, o quanto somos, o quanto ainda nos possamos amar, pouco importa se nos voltaremos a ver ou não.
(©) Célia Moura, ‘monólogos descontínuos’