Eu Hei-de Morrer Sorrindo
Eu hei-de morrer sorrindo enlaçada a uma árvore
Ainda que no deserto onde resisto
Não existam árvores,
Traçarei no teu corpo o húmus
Que me adorna a fronte sem sentido(s)
Enquanto meus dedos restarão na memória
Do piano e do saxofone
Ao som do violino.
Não pises as papoilas que dos meus seios
Hão-de brotar
Invadindo canteiros,
Nem ouses trilhar o uterino caminho de todos os seres
Ou todas as coisas!
Não penses!
Pensar é colocar em causa todas as definições, inclusive a ti mesmo.
Eu hei-de morrer enlaçada ao pensamento
Ainda que não chegue a conclusão alguma
Por mais que enlouqueça
E o pensamento doa.
Partirei no pó da estrada,
Talvez regresse à face mais uterina de um ventre
Partícula de pó levada pelo vento.
(©) Célia Moura, a publicar
(Ilustração – Jean-Claude Sanchez)