
Art/e (c) Fabian Perez painting
Tu és a prece que já não sei dizer
os olhos que sei de cor e não recordo
o sabor de os beijar.
Tu eras o bandolim e o banjo
que eu quisera caminho,
a guitarra onde sempre me enrosquei
como mais um acto inacabado.
Tu eras a mais elevada torre
o poema de brocado vestido
última rendição.
A girândola do tempo
somente nossa
esse além de sermos dois
e nos contemplarmos um só.
Puta que pariu para nós!
Hoje contemplo entre uma taça de vinho
teu semblante,
esta rosa branca flamejante de luto
adornando minha secretária
onde escrevinho e digo tudo
como os bêbados em redor da mesa de uma tasca
porque estar lúcido
essa sim é a maior embriaguez
Nesta enfermaria universal de loucos!
À merda com a rotina e toda a «normalidadezinha»!
© Célia Moura – in “No Hálito De Afrodite”, Out/2018
(Fabian Perez painting)
Simplesmente magnífico, toda a dor da perda, o eco da desilusão, a raiva incontida, o reconhecimento da monotonia, e toda a merda ada “normalidadezinha”, simplesmente soberbo.
Tens um fã do outro lado do oceano.
Belíssimo momento.
Parece o amor largado, deixado acontecer, o amor bem real. Lindo poema. Abraços