Adormecem mamilos gretados
De indignação
Em cada palavra
Que não ouso.
Gemem catadupas de papoilas
Entre o trigo
E por isso as digo
As escrevinho
Grito-as aqui
Neste papel de ninguém!
E que prazer é
Mordê-las!
Saborear-lhes o sangue
Expulso das artérias
Libertando-as de mim
Desta clausura
Onde tentam amordaçar-me
Todas elas
As mais insolentes
As deliciosas
As mordazes
E até as mais voluptuosas!
Que prazer,
Enamorá-las
Consenti-las
Dar-lhes permissão
Para logo a seguir
As arremessar certeiras
Fugidias ou sarcásticas
Como flores ou como dardos
Aguçando-lhes a destreza
Verbalizá-las todas,
Libertando-as do sémen
Que nos fecunda a seara
Do Bem e do Mal
Arrancando ervas daninhas
Pelos dentes.
© Célia Moura – A publicar “Terra de lavra”
(Imagem – Justin Grant Photography)
Realmente um escrito de uma qualidade esplendida, com sua marca de qualidade minha poetisa! Agradou-me enormemente!
Fantástico poema minha amiga, de uma enorme beleza e intensidade de sentir e sentidos.
Liberte-as, amiga… para prazer de quem as quer também para si mesmo! Obrigado!